terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

Medley sinestésico

19-02-2006

Páginas e mais páginas. Tralha de folhas empilhadas sobre o juízo ao sol meridional, sem necessidade de indagar o bom senso. Aliás, já de si questionado até o ser, agora já visto o seu devir, reboça no açúcar da maturidade. Quase seria mel, evitando os enjoos desmesurados no pré-natal dessa dita madurez, mas não o sendo, toma proveito a razão do ensinamento. Afinal, poderá ser doce.

Divã do mobiliário de jardim do Palácio Seehof, www.metmuseum.org

21-02-2006

Quem disse que não se importava com desculpas, comia chocolate amargo. Comia porque gostava da tarte de três chocolates. Mas é previsível que assim fosse, quando se pede uma tarte, então não há como negá-lo, a menos que se deixe de comer chocolate para não ter de ouvir escusas.
A tarte, por certo, até tinha o capricho de avelãs.

Giovanni António Canal, capricio: Escadaria Monumental, www.royalcollection.org.uk

Parou tudo, imediatamente à sucessão do instante, e logo depois os cacos voltaram a fraternizar, sem cola e nem pieguice. Remediado o caso, voltou a ser posto com simetria ante o seu par. Terá sido por respeito, a atitude, ou por preferência estética, a acção. Resulta então a ambivalência das coisas, quer por facto, quer por conveniência. Entenda-se como melhor se possa.

22-02-2006

Virou-se o feitiço contra o feiticeiro. Quiseras tu ser cobrador a vida inteira, chocalhando nos bolsos a astúcia de merceeiro, naquele jersey de pura lã virgem gasto nos cotovelos pousados sobre a bancada, mas sem sinal de aparente borboto. Quiseras tu fazer riqueza sobre o pagamento de um favor, seja a franquia em bilhete ou em género, seja o regozijo por um bom fecho. Seja o que for.

Por Victoria Casal, anel inspirado no “diamant captif” de Pascal Morabito