terça-feira, 23 de maio de 2006

Chamemos-lhe fome

Malgrado o cansaço do voo que, vezes sem conta, surgia encorpado em murmúrio, não se lhes via piedade pelos presentes. Tagarelavam sobre o sol, os corpos ao sol, a tez dourada com pouca salmoura, a areia fina, até os fatídicos roliços nas areias finas.....eis o garçon - sim, sim.. uma para mim também por favor. Já viste como vem bem servido? - e de novo retomaram a cadência crepitante dos esperados suspiros e das súbitas gargalhadas, cambaleando as cabeças para impôr sujeito à ideia....que férias.
A meio do galão e do café, foram servidas com duas generosas fatias de bolo de chocolate. Seria bom dizer que, de facto, era só chocolate e parecia luxuriante, ainda que com decoro, as garfadas dadas. Quase não se olhavam nos olhos e já quase ninguém as ouvia.
Decerto a pérola do pullover era decente e vinha por tal, pela aparente decência de quem sabe aparentar, até a fome.

USA, New York City 1946, por Elliott Erwitt

Sem comentários: